Estado Sul

Mano traz na exposição Estado Sul um conjunto de trabalhos construídos a partir de um olhar sobre as coisas do mundo. Além de uma situação física, Estado Sul traz a condição de uma maneira de ser. Um convite a pensar o Sul a partir do Sul. Materiais e objetos são arranjados, estruturados ou encostados a partir de um deslocamento considerado como um estado normal – plásticos, objetos ordinários e gestos são reorganizados como fragmentos de uma composição precisa.

Ao andar pela exposição, todos trabalhos são compostos por coisas que parecem já terem sido vistas em algum outro lugar – seja uma sacola ou uma marca gestual. No trabalho de Mano Penalva percebe-se comumente uma espécie de “quebra da normalidade” dos objetos – capacidade de reconfiguração surpreendente e inesperada, quando os mesmos deixam suas funções primeiras e imprimem novas possibilidades e formas de pensar a existência.

No trabalho de Penalva tudo é um jogo justo, indicando um interesse na forma cotidiana de improvisação urbana – uso decorativo e prático do material, o que reflete as realidades sócio-econômicas e culturais da população.

Estado Sul é espacialmente dividida em 2 ambientes e uma ação onde o artista insere mil sacolas em circulação na cidade.

A partir da observação da imagem do Laçador presente em souvenirs do comércio de Porto Alegre, durante a residência no Pop Center, o artista desenvolveu o trabalho Lembrança Popular. Duas sacolas de ráfia com serigrafias em preto, trazem a imagem de dois vendedores do Centro da capital. Estas trazem a imagem de um homem e de uma mulher que comercializam produtos na região central, lembrado a importância da figura popular como valor simbólico e “patrimônio cultural’’. A escolha dos personagens se dá a partir da observação de uma espécie de performance do cotidiano urbano do povo que ocupa as ruas e circulam com a venda de seus produtos.

Além de uma homenagem aos pioneiros de uma conquista e de um estabelecimento do Estado do Rio Grande do Sul – representada pela figura do Laçador – o artista amplia e problematiza sobre a representação do que é ser popular. Assim, esse trabalho que tem também como função o transporte, passa a ser um elo entre a sociedade e esta imagem, desmistificando o seu entendimento social.

No primeiro ambiente, a instalação Balneário Sul ocupa uma área de 24 metros quadrados, onde 40 mil escovas empilhadas formam uma base piramidal, construída em conjunto com lojistas, estudantes e passantes do Centro Popular. Esta estrutura é formada por sonhos escritos em papeis que foram colocados dentro das escovas durante a construção do trabalho. No seu topo, cerca de 600 cartões e panfletos dos lojistas do POP Center  compõem um campo plural.

No segundo ambiente, é apresentado um conjunto de trabalhos criados a partir de produtos e materiais que são provenientes de diversos lugares do Brasil e do exterior, ressaltando aspectos da cultura nacional, especialmente devido à apropriação de alguns itens que nos são familiares, mas com significados ampliados, extrapolando fronteiras através das combinações propostas pelo artista com um senso de invenção formal altamente matizado.

O trabalho de Mano nos faz pensar sobre a trajetória do objeto desde sua criação aos múltiplos usos. Os materiais desdobrados em novas funções sugere uma questão reflexiva sobre o que a arte pode problematizar. Nesse caso, Estado Sul propõe, num momento e ambiente ideal, uma ampliação do significados do que é ser popular.

Franck James Marlot, Abril, 2017

POP Center, Porto Alegre

Estado Sul, Mano Penalva